Há limite para os carros autônomos?

Há algumas semanas, na Flórida, um Tesla Model S sofreu um acidente fatal enquanto estava em direção autônoma. O sensores do carro não conseguiram distinguir a lateral branca de uma carreta do céu claro ao fundo. Ou seja, o carro não "viu" a carreta (nem acionou os freios) e a atingiu causando a morte do "motorista". Outros dois acidentes ocorreram com o modo autônomo acionado, um em Montana, outro na Pensilvânia, ambos com Tesla Model X.
3 acidentes em modo autônomo. Dois com o Model X
Como toda tecnologia, os carros autônomos têm ainda que passar por evoluções, apesar de sua exponencial melhoria. Em poucos anos, os sistemas devem estar perfeitos. Para ser sincero, eu acho esta tenologia excelente. Aí você vai se perguntar como que alguém que escreveu isso pode dizer uma coisa dessas. Bom, como eu disse aqui, ninguém é obrigado a gostar de dirigir. E como alguém vai fazer bem feito algo que não gosta? Quando as pessoas que não gostam de dirigir estiverem todas com carros autônomos, imagine o incremento de segurança que as ruas terão. Elas poderão se deslocar sem estarem fazendo algo que não as agrada, enquanto os carros vão indo certos na faixa, dando seta, com velocidade coerente para a via e sem indecisão no caminho para se chegar a um destino.
Nissan Serena com sistema Pro Pilot
Perfeito! Compreendo totalmente e faço votos para que este futuro esteja o mais próximo possível da realidade. Para isso, os carros autônomos devem ficar mais acessíveis, para atingir uma quantidade maior possível de motoristas que torcem o nariz para cada serrinha cheia de curvas porque não entendem que deve-se reduzir as marchas para o carro não perder força. E que o motor não vai explodir se chegar às 6 mil rpm. Se passar e alcançar o limite, também não tem problema, a injeção é cortada. Em tempo, carros que estacionam sozinhos, fazendo a "temerosa" baliza de forma autônoma já estão disponíveis ao grande público.
Tecnologia da Nissan por enquanto só funciona em vias de pista única.
A Nissan esta semana deu um importante passo para popularizar a direção autônoma ao começar a vender no Japão a minivan Serena com o Pro Pilot. O veículo, sem o sistema, tem preço entre US$ 27 mil e US$ 30 mil dólares em seu país de origem, razoável. Por enquanto ele só pode ser usado em vias de pista única, controlando a distância do veículo da frente entre as velocidades de 30 e 100 km/h, fazendo curvas e parando se necessário (ocasião em que o motorista deve reiniciar o movimento). Com o tempo, a Nissan projeta uma grande evolução, com a possibilidade de em 2018 já ser possível utilizar o sistema em vias com várias faixas de rolamento, até que em 2020, já esteja pronto para vias urbanas com cruzamento.
Evolução rápida do sistema pode popularizar direção autônoma
O contraponto da direção autônoma é justamente decidir abdicar do prazer que algumas pessoas têm em dirigir, seja qual for a ocasião, seja qual for o carro, seja qual for a estrada. Entre os maiores "vícios" dos entusiastas do volante, estão serrinhas cheias de curvas para provocar seu carro (com segurança, claro)  e uma boa trilha off road para atolar e desatolar seu 4X4. Desafio. Este é o contraponto. O prazer da recompensa de ter realizado algo notável, no mínimo para si mesmo. Superar um limite, seus próprios limites, chegar o mais longe possível por um mérito só seu. Por isso, não compreendi duas iniciativas de duas marcas notadamente conhecidas, entre outros motivos, por terem veículos com dirigibilidade acima da média em seus segmentos.
i Vision Future Interaction
Esportivo autônomo... uhhhnnn... 
A BMW lançou um carro conceito baseado no i8 chamado de BMW i Vision Future Interaction. A idéia, por enquanto só um estudo, é ter um carro esportivo autônomo em que você assuma o volante em situações em que deseje dirigir. Sim, sei que todos os carros autônomos são assim, mas um com aspecto esportivo é a primeira vez que vejo. Sei também que dirigir esportivos em cidades cheias de buracos e tráfego lento é algo terrível. Logo, é de se esperar que o motorista só queira dirigir onde ele ache recompensador. Aí fica a questão: então por que um esportivo? Por que ficar aguentando buraqueira e anda e para em um carro certamente menor, menos confortável, com suspensão mais dura e que chama mais a atenção? Um esportivo é algo para você se sentir especial. Domá-lo é uma maneira de se sentir ainda mais especial. Por isso eles são usados em finais de semana, track days, quando tudo pode ser perfeito. O executivo que vai trabalhar com sua Ferrari 458 só na sexta para no final do dia viajar aguenta um dia de trânsito sem reclamar. E mais, pessoas que possuem esportivos, com toda certeza, possuem outros carros muito mais confortáveis para o dia-a-dia, como este Mercedes-Benz Classe S do vídeo a seguir:



Por mais que eu me oponha ao pensamento da BMW com este carro, a idéia de assumir o volante onde em situações em que dirigir seja um prazer tem lógica. Mas a Land Rover subverteu esta lógica ao apresentar um vídeo onde demonstra um sistema que consegue perceber as características do terreno e adaptar a velocidade, suspensão e mecanismo Terrain Response de acordo com a necessidade. No mesmo vídeo, ainda é mostrado o Off-Road Connected Convoy, para "passeios off road com os amigos", em que o motorista do carro "líder" faz as adaptações necessárias para passar por alguma situação e as configurações são enviadas aos outros carros que vêm atrás, que ainda podem fazer ajustes automaticamente ao receber dados de como o carro líder se saiu passando pelo obstáculo.



Contra todos estes meus argumentos, há o detalhe da liberdade individual. Cada um compra o carro que lhe atenda melhor. Sim, concordo e acho que a liberdade deve ser defendida tanto quanto a vida. Mas na minha opinião, uma pessoa que usaria (caso chegue ao mercado) estes sistemas da Land Rover, não é melhor que alguém que compra um CrossFox achando que tem um super-mega-hiper-fora-de-estrada. Afinal, ambos estão querendo parecer algo que não são. Com a diferença que o dono do CrossFox não é um espectador da própria vida e vai ter que se virar para encarar uma estrada de terra que tenha umas valetas e costelas de vaca mais pronunciadas.
CrossFox
Melhor que o sistema da Land Rover para quem gosta mesmo de desafios Off Road
Os carros autônomos vieram para ficar. Seus sistemas são bem melhores que os previstos até os anos de 1990. Lembro que quando era era criança vi uma reportagem sobre um estudo de se colocar sensores nas estradas e nos carros para eles poderem seguir certo pela pista. Hoje sabemos que isso não é necessário. Como diz a música da banda Legião Urbana, "o futuro não é mais como era antigamente". E isso é ótimo. Deixar de precisar fazer muitas coisas do dia-a-dia, porque a tecnologia permite, nos deixará com mais tempo disponível. Carros autônomos, que conseguem pegar menos trânsito e se envolvem em menos acidentes, são uma destas tecnologias. Só espero que não sejam um passo em direção aos humanos do filme WALL-E, da Pixar Animation Studios.
Cena do filme WALL-E (Pixar Animation Studios)








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Autor: Rodrigo Costa

Do ponto A ao ponto B, pensando na vida, no volante e tudo mais.

2 comentários:

  1. Acho que o problema aí e, concordo com você, cada um compra o que quer, é que um exemplo melhor, acredito, seria "I, Robot":

    https://www.youtube.com/watch?v=7UTaSMYK4gs

    Aqui vemos que, quando ele toma o controle do carro, ele que ainda é um misto de ultrapassado e moderno, consegue pilotar até que bem, mas em várias partes do filme, vemos que as outras pessoas aconselham que "não é seguro devido a velocidade".

    O que eu acho que acontecerá na verdade serão segmentações, mas do seguinte modo:

    Publico A: usa a rodovia (highways) todo dia pro trabalho e muitas vezes estão com sono ou ocupados de outras coisas, ou mesmo com trabalhos atrasados. Nesta situação, um carro que vá constante e permita que o cérebro se ocupe com outras coisas com certeza reduzirá em muito os acidentes.

    Publico B: mora em locais afastados, como fazendas. Já fui demais pro interior para saber a quantidade de offroads que enfrentei e me diverti mas, pro cara que vai e volta todo dia da cidade, com certeza isso não é um prazer e sim uma obrigação e ele poderia empregar melhor o tempo dele: para estes eu vejo pesquisas como a da Land Rover se tornarem um nicho específico.

    Pùblico C: viaja com seu carro esportivo (como você citou) mas em determinado momento quer relaxar e curtir a paisagem, deixando o carro ir sozinho. Seria uma evolução do atual piloto automático que só trabalha a velocidade constante. Ainda é um nicho, também.

    Por cima de todos estes públicos, quando assisti o referido filme, o ponto principal que me veio a cabeça é que as estradas ali evoluíram a tal ponto e para tal velocidade que a mente humana teria problemas para controlar e não se arrebentar se tivesse que dirigir assim, algo que durante o filme é reforçado várias vezes.

    Claro, aí existe toda uma discussão sobre o quanto vamos "desaprender" de dirigir devido aos sistemas automatizados (e isto é preocupante), ainda mais quanto mais isso for padrão e novas gerações chegarem já com este conceito, mas ao mesmo tempo talvez ganhemos em velocidades de deslocamento que, em teoria, ocorreriam sem acidentes (a não ser que alguma IA enlouquecida resolva te atacar) o que permitiria muito mais mobilidade com veículos. A discussão que perdura de tudo isso é, se num futuro desses, sobrou um modo de se dirigir com prazer ou se virou apenas o deslocamento entre 2 pontos. O próprio jogo Forza 4 trabalha em cima dessa premissa que as pessoas esqueceram o prazer de dirigir.

    Mas aí, realmente, só o futuro dirá para que direção (#badumtsss) estamos indo.

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    Respostas
    1. Oi Juliano, perfeita sua análise!

      Segmentação representa de uma excelente maneira a liberdade de escolha.

      O Forza Motorsport 4 fez na época do lançamento uma propaganda muito bacana com Jeremy Clarkson:

      https://www.youtube.com/watch?v=fKNPAiyRpxs



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